quarta-feira, 11 de abril de 2007

Armelindo um homem feliz

Armelindo é um homem feliz, com o seu imponente bigode arruçado
casaco violeta, lencinho amarelo chapéu branco e um enorme cordão doirado.
Veste uma camiseta de grandes colarinhos e calça verde de bainha arregaçada,
calça sapatinhos de verniz meiazinha branca nas pontas dobrada .
A vida de Armelindo era realmente per-fei-ta. De expediente intenso
Armelindo sentia-se dono do mundo! Tinha tudo o que queria.
No seu potente Ford Capri Azul Bebé, interior de pele aromatizado com incenso
Pavoneava-se pelas ruas da sua cidade todo o santo dia!
Armelindo o rei da cidade! Cabelo de brilhantina, e raibantes comprados na feira.
Estilo modernamente ultrapassado dos anos setenta!
Calcinha justinha, todo bem posto, lá ia ele ao seu lugar previligiado, à tasquinha.
-Sai uma jeropiga e um pastel de vacalhau para o Armelindo o rei da cantadeira!
O rei da cantadeira... Armelindo Rei! Soa bem ao ouvido.... O rei da cantadeira!
Depois de um pequeno almoço pleno de calorias armelindo punha-se a caminho.
Começava o seu dia de azafama, cheio de vigor e estilo!
Entrava no seu carrinho, dava a chave, liga a sua alta fidelidade para se ouvir na rua inteira.
La ia ele, de vidros abertos cabeça meia fora meia dentro.
Aquilo é que era estilo grande som e cabelos ao vento!
Braço esquerdo de fora o direito no topo do volante, bem recostado mostrando seu semblante
- ARMELINDO O GRANDE! gritava bem alto.
- ARMELINDO O CAMPEÃO!
Com metro e meio parecia ter dois, com as suas sapatos de verniz e alto tacão.
Parava a sua maquina, saía e acariciava-o.
- Que bela máquina de azul celestial! - Que satisfação.
Havia pago duzentos e cinquenta contos pela sua maquina infernal!
Armelindo transbordava de orgulho! Erguia para fora o seu peito, caminhava
à febre de sábado à noite, direito ao numero trinta e três.
Punha a chave a porta, com uma postura carregada de respeito.
Subia até ao seu palácio de águas furtadas, entrava e punha a nu os seus pés.
Que felicidade mais um dia passado em grande! Já com as suas chaves penduradas,
Armelindo encaminha-se ao frigorífico que estava ali logo à sua direita e tira uma mini geladinha.
Liga a televisão, senta-se no sofá escarlate, estende as pernas bem abertas e relaxadas, cantarola de felicidade.
- Mas que maravilha, que loucura esta minha vidinha... - e termina a sua cervejinha.
Levanta-se e olha em redor o seu palácio de águas furtadas.
A cama a uns bons três quatro metros da porta encostada à parede!
O sofá e a TV bem no centro, ao lado um fogãozinho encostado a uma clarabóia forrada com rede, um frigorífico com vinte anos ferrugento onde ele guardava as suas cervejinhas geladas, um guarda fatos espelhado castanho escuro com três portas à beira da cama, um pequeno móvel estante com fotos de família emolduradas e uma imagem de uma santa, mas estava lá uma vazia, falta uma foto, uma foto da mulher que ele ama, um jarrito com três tulipas, ao lado uma mesinha e uma cadeira para a comer a sua janta.

Não precisava de mais, Armelindo o homem do expediente
Sempre só no seu canto, mas sempre feliz e contente
Deita-se no seu leito com uma colcha de renda e cetim
Fecha os seu olhos, sonha numa grande viagem sem fim

Lá estava ele Armelindo um homem só, um homem sorridente
Não se sentia mal com os destino que lhe fora reservado
Um homem que era muito feliz bem à sua maneira, sempre contente...

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